sábado, abril 20, 2024

O homem que batizou o Noturno: entrevista com Luiz Antonio Aguiar

 

 

Se você lê quadrinhos, certamente já teve contato com o trabalho de Luiz Antônio Aguiar, por mais que não saiba. Ele foi o roteirista responsável, por exemplo, pela versão em quadrinhos do Sítio do Pica-Pau Amarelo (lembra? Tinha até chamada na TV!). Além disso, ele escreveu muito tempo para a divisão Disney da Abril e fez histórias que devem ter divertido você.
Luiz também teve a oportunidade de trabalhar com personagens próprios na época em que participou de uma das mais famosas revistas do quadrinho nacional, a Spektro, editada pelo OTA, que hoje é responsável pela MAD.
Luiz tem em seu currículo alguns trabalhos curiosos. Na época em que era assistente na RGE, ele ajudou a batizar alguns dos personagens mais queridos dos fãs. Foi ele que batizou o Noturno  e evitou que o Wolverine fosse chamado de Carcaju.
Nesta entrevistas, feita por e-mail, Luiz, que atualmente é escritor de literatura infantil, fala de sua experiência com quadrinhos, explica porque a RGE deixou de trabalhar com gibis e diz que sente falta dos “CA- POU” e dos “ BUUUMM”.

1) Como começou a sua relação com os quadrinhos? O que vc lia? quais eram seus autores prediletos?
Começo em criança. Aprendi a ler no Tio Patinhas e as histórias de Carl Barks sempre foram a minha fascinação. Entrei na Disney pensando sempre em escrever histórias como aquelas. Consegui, mas só algumas.

2) Você, quando era só um leitor, já imaginava tornar-se um roteirista de quadrinhos?
Nunca, quadrinhos sempre foi curtição para mim. Mesmo hoje, muito afastado do mercado e do ofício, já que me dedico à literatura Infanto Juvenil, continua sendo assim: quero relaxar, pego um Donald.

3) Como você começou a escrever quadrinhos?
Em 77, para pagar minha segunda faculdade. Comecei fazendo roteiros para a Revista do Sítio do Picapau Amarelo, da então Rio Gráfica Editora (que depois virou Globo e foi para São Paulo).


4 – Você começou a escrever a convite de alguém ou foi atrás da editora?
Eu fui atrás. Precisava ganhar dinheiro para pagar o curso de sociologia na PUC (já tinha me formado em Comunicação), até por uma questão de brio. Sabia que o curso não era para valer, era só desculpa para continuar fazendo política estudantil, e não queria descarregar essa em cima do meu pai. Apareci na Editora com um roteiro, que foi comprado, e passei a escrever outros.

5 - O Sítio do Pica-Pau chegou a vender muito, não foi? Pelo que me lembro, tinha até anúncio na TV.... Como era para você essa reação positiva do público? Como foi o seu trabalho na RGE?
Depois, em 79, fui trabalhar como assistente de editora, na RGE. Todas as revistas de lá passaram pela minha mão. Dei nome a um bocado deles, do inglês, inclusive a uns X-Men da vida. O Wolverine, por exemplo, apareceu nas primeiras revistas como Carcaju. Uma aberração. Resolvi apenas deixar como o chamavam em Inglês. Batizei também o Noturno. Trabalhei, sim, com a Kripta, e foi uma belíssima revista que inspirou muita gente. Quanto ao Sítio, caiu muito a vendagem depois que saiu da tevê, mas ainda se sustentaria. Ocorre que a direção da RGE na época, por incrível que parecesse, não tinha a menor boa vontade com quadrinhos. Queriam todos era deixar de ser editores de quadrinhos, coisa de que não entendiam, nem gostavam, e foram desinvestindo no setor, para abrir outras revistas, muitas delas fracassadas, em outras áreas. Quando a galinha dos ovos de ouro foi finalmente estripada, fecharam 12 revistas, das 15 que havia - isso foi em 83 - e demitiram quase toda a redação. Tempos depois, foram para São Paulo e mudaram de nome e de direção, mas aí já é outra história, que inclui até o Maurício de Souza.

6 - O fato de vc ser um escritor de quadrinhos e literatura deve dar-lhe uma perspectiva interessante. Quais são as diferenças de narrativa?
Na literatura há mais espaço para o texto e, de certa forma, mais flexibilidade para composição de personagens e ritmo de trama, coisas que, em quadrinhos, ficam com o desenhista. Mas sinto falta dos CA-POU! e dos BUUUUUMMM!


7-  Como foi a experiência com a Vecchi?
Excelente, pelas pessoas com quem trabalhei, desenhistas como Júlio Shimamoto, que foi meu parceiro favorito por lá. Depois, fizemos um albúm juntos, Nos tempos de Madame Satã. O Shima era fantástico. Foi a minha chance de começar a criar personagens meus. Fizemos umas séries bastante originais, em terror e faroeste. O Otacílio sempre deu força para a gente criar à vontade. Pena que a Editora foi canibalizada de dentro para fora pelo despreparo e falta de profissionalismo da direção.

8 - Quais foram os melhores desenhistas com os quais você trabalhou? Por quê?
Shimamoto, sem dúvida, pela intensidade que ele acabava dando à história, e Guidacci, com quem fiz o Indecências e desmandos do herói Macunaím em sua passagem pela história da terra-Brasil. O Guidacci é uma verdadeira enciclopédia de recursos de desenho. Ambos são fenomenais. Fiz boas histórias com o Mozart Couto, também, uma revista de histórias de futebol muito manêra, com personagens meus, a Futebol e Raça.

9 – Quais foram os seus últimos trabalhos em quadrinhos? Por que parou de fazer HQ?
Não me lembro bem dos últimos trabalhos, mas creio que foram os Disney, ainda, na Abril, e o que fiz no Estúdio Artecômix, inclusive o Futebol e Raça. Larguei HQ porque o mercado de produção nacional de massa se extinguiu. HQ hoje é cult, muito restrito, a produção nacional, bem entendido, e esse nunca foi o meu barato. Produz-se muita coisa boa, mas eu sempre sonhei mesmo é em ver a garotada comprando aos montes minhas histórias, como eu fazia, e se esbaldando, sem mais nem menos.

10 – Já aconteceu de você entregar um roteiro para o desenhista e o desenhista não entender a proposta e estragar a história? O que você fazia para evitar isso?
 O melhor é ir fazendo junto, coisa que existe pouco no circuito comercial. Pelo menos um contato, uma discussão cena a cena, é sempre bom. Mas o que mais aconteceu comigo foi de o desenhista dar belas interpretações que avivaram o roteiro.

11 – Qual é o segredo para escrever um bom roteiro?
Imaginar a coisa passando na cabeça da gente, é óbvio. Se perder de vista o que está fazendo, não funciona. Tem de conseguir ler o próprio roteiro como se estivesse na revista. Assim, a gente vê o que funciona e o que não funciona. E, ah, sim, lembrar que tudo o que a gente faz bem, literatura ou roteiro de quadrinhos, não faz nem por vaidade nem por exercício de virtuosismo, mas para ser lido por outras pessoas. Senão, é sexo solitário.


12 – Você sente vontade de voltar a escrever quadrinhos?
Sim, se houver uma chance de quadrinhos de massa, muito, muito lidos, voltarem a circular. Hoje, além do Maurício e o que ainda tem do Disney, isso não existe mais. Quadrinhos Cult não são a minha praia, apesar de ter feito o Macunaíma e o Madame Satã, citados em antologias e enciclopédias de quadrinhos. Meu barato seria uma revista que todo mundo pudesse ler, e gostasse de ler, não apenas quem é aficionado em quadrinhos.

Alerta Vermelho

 


 

Existe uma tradição em Hollywood de filmes de golpistas concebendo um grande roubo. Alerta Vermelho, filme dirigido por Rawson Marshall Thurber com  Dwayne Johnson, Ryan Reynolds, Gal Gadot se encaixa nessa categoria.

 Na história, o agente do FBI John Hartley (Dwayne Johnson) tenta impedir que o ladrão Nolan Booth (Ryan Reynolds) roube um dos objetos antigos mais preciosos do mundo: o ovo de Cleópatra. No entanto, Hartley é vítima de uma armação e acaba incriminado e preso com Booth numa cadeia russa. A responsável por isso é a ladra O Bispo (Gal Gadot) e para limpar seu nome, Hartley precisa se aliar a Booth e impedir que o terceiro ovo seja encontrado.

 É uma trama repleta de reviravoltas, em que ninguém é o que parece ser. Tudo isso misturado com sequências inteiras de cenas de ação entremeadas com muito humor, algo que Ryan Reynolds faz bem. Nessas cenas, aliás, a canastrice Dwayne Johnson funciona bem, de forma que ele serve perfeitamente como escada para as piadas, como quando Booth diz, em plena prisão russa, no meio de uma centena de bandidos,que o colega é na verdade um policial.

 O filme é bem dirigido, tem diálogos afinados, mas parece não ir muito além da superfície, de modo que fica sempre a impressão de que falta alguma coisa. Alerta Vermelho nem se compara com clássicos como Golpe de Mestre ou Onze homens e um segredo. Ainda assim é divertido.

Superman Terra um

 


A mitologia do Superman é uma das mais conhecidas da atualidade. Poucas pessoas não conhecem a história do planeta que estava prestes a explodir e da criança que escapou do desastre numa pequena nave e foi criada por um casal de fazendeiros do interior dos EUA, tornando-se, quando cresceu, o maior herí da terra. Reimaginar essa mitologia é um desafio perigoso. Mas J. Michael Straczywski se sai muito bem no álbum Superman – terra um.
A história reconta a origem do homem de aço. 


O roteirista usa alguns princípios básicos, como planeta que explode e a criança que é lançada no espaço, mas faz mudanças profundas: em sua história, Kripton explode em uma guerra com um outro planeta. E um dos habitantes desse planeta, percebendo que alguém escapou, resolve caçar o último filho de Kripton. Isso, claro, dá à trama uma invasão alienígena realmente efetiva que se torna a espinha dorsal da trama.
Uma das boas sacadas do roteiro é com relação à tecnologia kriptonia, capaz até mesmo de escrever em átomos.
Se o roteiro é uma boa surpresa, já não se pode dizer o mesmo dos desenhos. Shane Davis é um bom ilustrador, mas com certeza não é o homem ideal para o Homem de Aço.

Pimpinela escarlate

 

Pimpinela Escarlate, de autoria da Baronesa de Orczy, foi escrito em época pouco posterior à Revolução Francesa e conta a história de um misterioso personagem que se empenha em tirar nobres da França numa época em que ser nobre na França era ser freguês da guilhotina. É um dos livros de propaganda disfarçada de ficção mais antigos que conheço. Escrito por uma nobre, mostra os nobres como heróis e os plebeus como vilões magros e astutos que esfregam as mãos magras a cada minuto, maquinando planos diabólicos. Em vários sentidos, Pimpinela Escarlate é um precursor de heróis como Batman e Zorro (inclusive no que diz respeito ao maniqueísmo com que os personagens são apresentados). Uma das características que o vão diferenciar dos heróis clássicos e aproximá-lo dos super-heróis é a necessidade de uma identidade secreta.

O primeiro capítulo é promissor. No portão oeste de Paris está o sargento Bibot, um astuto revolucionário com faro sem igual para descobrir aristocratas disfarçados em fuga. Era como uma brincadeira de gato e rato. Bibot fingia-se iludido pelo disfarce, mas quando o pobre nobre atravessava o portão e sentia-se livre, o sargento mandava em seu encalço dois guardas que o traziam de volta diretamente para os braços da mãe Guilhotina.
Bibot está sentado sobre um barril vazio e conta divertido as novas sobre um tal Pimpinela Escarlate. Recentemente uma fuga pelo portão norte colocara toda a guarda em prontidão.
Bibot, divertido, conta como ser dera a fuga. O pobre sargento responsável pelo portão Norte vira-se às voltas com um carroça cheia tonéis de vinho puxada por um velho acompanhada por um menino. Zeloso, o cidadão examinou os tonéis e, achando que estavam vazios, deixou passar. Meia hora depois chegou uma patrulha perguntando pela carroça. Ao saber que haviam deixado passar, os soldados correram pelo campo, em busca de sua presa. Quando a platéia lamentava a displicência do responsável pelo portão norte, que não revistou direito os tonéis, vem a revelação: na verdade, os guardas eram o Pimpinela Escarlate e os aristocratas por ele salvos...
Todos comentam entre si a astúcia do Pimpinela, mas Bibot assegura que nem toda essa astúcia o salvará. É quando uma velhinha, que passara o dia inteiro tricotando e se regozijando com as cabeças cortadas pela guilhotina, se aproxima do portão com sua carroça. Bibot pergunta se ela voltará no dia seguinte, e ela responde que provavelmente não, pois seu netinho, que está dentro da carroça, está com varíola, ao que toda a audiência recua. “Saia daqui imediatamente, mulher!”, ordena o sargento, para descobrir, depois, que a velhinha era ninguém menos que o Pimpinela Escarlate.
A esse início promissor segue-se uma narrativa com todos os vícios do romantismo. Uma pena, mas a novela deixou um legado: Pimpinela é o precursor dos heróis dos pulps e dos quadrinhos de super-heróis...

A arte fantástica de Darrell K. Sweet

 


Nascido em 1934, Darrel K. Sweet foi um dos primeiros ilustradores de fantasia. Ficou conhecido por ilustrar as capas da série A roda do tempo, de Robert Jordan. Ganhou o prêmio Hugo em 1983. 











sexta-feira, abril 19, 2024

Chamada de artigos: Poética e Nona Arte: da poesia nos quadrinhos ao quadrinhos poético-filosóficos - Novo prazo

 

Poética e Nona Arte: da poesia nos quadrinhos ao quadrinhos poético-filosóficos

A antologia Poética e Nona Arte: da poesia nos quadrinhos ao quadrinhos poético-filosóficos reunirá artigos sobre os vários aspectos da relação entre poesia em quadrinhos, desde as HQs que usam elementos de poesia até os quadrinhos póéticos-filosóficos, passando por análises do texto nos quadrinhos.

Também serão aceitas histórias em quadrinhos que tenham relação com o tema da obra.

Os artigos deverão ter entre 10 e 15 páginas, incluindo imagens e referências (ver abaixo as normas de apresentação do artigo).

As histórias em quadrinhos devem ter no máximo 8 páginas.

O livro será lançado pela Marca de Fantasia e será organizado por e Ivan Carlo Andrade de Oliveira, Edgar Franco e Gazy Andraus.

Os artigos devem ser enviados até 26 de Novembro de 2024 para o e-mail profivancarlo@gmail.com.

 

 

 

[TITULO DO TRABALHO EM NEGRITO E CAIXA ALTA, CENTRALIZADO, FONTE 12, LETRA TIMES NEW ROMAN, ESPAÇAMENTO SIMPLES]

 

[nome completo do/a autor/a, alinhado à esquerda, fonte 10][1]

 

[Introdução e demais subseções com primeira letra em maiúsculo, fonte 12, negrito, alinhado à esquerda]

 

[Texto em espaçamento 1,5 cm, fonte times new roman 12, alinhamento justificado, deslocamento na primeira linha em 1,25cm. Mínimo de 10 e máximo de 15 páginas, incluindo referências bibliográficas e imagens. Notas de rodapé devem ser usadas apenas para complementar dados essenciais. Referências bibliográficas devem ser inseridas no corpo do texto conforme orientação de citação entre parênteses, com sobrenome do autor em caixa alta, ano e página. Ex (Reblin, 2013, p.28)]

[Citações com mais de 3 linhas devem seguir padrão ABNT: Fonte tamanho 11; recuo de 4 cm da margem esquerda; espaçamento das entrelinhas da citação deve ser simples. Ex:

Ao ler histórias de ficção, mergulhamos no universo que nos é contado. Esse universo contado para nós não é moldado a partir do nada, mas é criado com base no modelo que o autor e, num espectro mais amplo, a sociedade em que o autor habita possuem sobre a realidade e suas vicissitudes. Nessa perspectiva, é possível afirmar que as histórias dos super-heróis são uma espécie de “janela da realidade” a partir da qual temos acesso a um mundo ficcional, calcado no real (Reblin, 2013, p.28)

 

 

[Imagens devem ser inseridas no texto, centralizada, com legenda acima da imagem e fonte abaixo, ambas com fonte 10. Título da imagem em negrito. As fontes das imagens devem constar também na relação de Referências ao final do texto. Ex.

 

Quadro 1 - Título do quadro

 

Atividade

Tipo

Quantidade realizada

 

Percepção

Leitura de Quadrinhos

Álbuns 

5

 

Materialidade

Leitura de E-Comics

Tiras

8

 

Dispositivo

 

Fonte: (pode ser uma referência ou decorrente da pesquisa de campo)

 

 

 

Figura 1Capa da HQ Persépolis



Fonte: Quadrinhos na Cia, 2007.

Referências

Fonte times new roman 12, espaçamento 1cm, entrelinhas simples, alinhamento à direita.

Impressos

SOBRENOME, Nome. Título: subtítulo (se houver). Edição (se houver). Local de publicação: Editora, ano de publicação da obra. 

Exemplos:

SATRAPI, Marjane. Persépolis. São Paulo: Quadrinhos na Cia, 2007.

ARUZZA, Cinzia; BHATTACHARYA, Tithi; FRASER, Nancy. Feminismo para os 99%: um manifesto. São Paulo: Boitempo, 2019.

Online

SOBRENOME, Nome. Título do material. Negrito para a fonte principal (site/revista/periódico, etc.), volume, página, ano.  link, data de acesso. 

Exemplo:

SANTOS, Mariana Oliveira dos; GANZAROLLI, Maria Emília. Histórias em quadrinhos: formando leitores. Transinformação, v. 23, n. 1, p. 63-75, 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-37862011000100006&script=sci_arttext&tlng=pt. Acesso em: 20 jan. 2021



[1] [Última titulação e vinculação acadêmica em nota de rodapé na primeria página, fonte times new roman 10, espaçamento simples, não ultrapassar duas linhas para cada autor/a, incluir link de orcid. E-mail opcional]

Bem-vindos a Alflolol

 


Uma das características que fazem de Valerian algo totalmente diferente de outras séries de ficção científica é a humanidade, filosofia e poesia das histórias. Como diz o roteirista Christin, “Mesmo que a aventura renda sempre uma leitura agradável, o verdadeiro tema é a reflexão, antes da ação”. Exemplo perfeito disso é o álbum Bem-vindos a Alflolol.
Na história, os dois aventureiros espaciais, Valerian e Laureline, estão visitando um planeta repleto de recursos naturais que estão sendo explorados pelos terrestres. É quando se deparam com uma nave ancestral. Na nave estão os habitantes originais do planeta, seres tão longevos que vivem milhares de anos. E que têm o costume de fazer passeios de turismo pela galáxia de tempos em tempos, em embarcações movidas por seus poderes mentais. E eles estão voltando para casa depois de uma breve viagem... que durou quatro mil anos terrestres!
Os habitantes de Alflolol estão voltando de uma longa viagem de turismo... 


Isso gera uma crise: os executivos são obrigados a aceitar os alfaloloseses , mas temem que os habitantes originais possam atrapalhar a produção (a todo momento temos algum executivo dizendo algo como “A produção não pode parar!”, “A economia não pode parar!”).
Para evitar prejuízos à empresa, os habitantes originais do planeta são confinados em uma reserva.
... e acabam sendo confinados em uma reserva. 


A HQ nitidamente é uma metáfora da situação dos índios norte-americanos, habitantes originais das terras americanas, mas aprisionados em reservas.
A dupla de criadores, Christin e Méziéres, no entato, dá à história, que poderia ser um dramalhão, um tom leve e irônico, constantemente humorístico.   E transformam a coisa toda numa grande aventura, deliciosa de se ler.
Bem-vindos a Alflolol faz parte do segundo volume da série de álbuns dos personagens lançada pela editora SESI de São Paulo.

São Tomás de Aquino e a vitória do ocidente

 


Lendo sobre São Tomás de Aquino, no livro Viagem na Irrealidade Cotidiana, de Umberto Eco é que percebo a importância imprevista desse pensador para a configuração do mundo em que vivemos hoje. Não fosse ele, talvez fôssemos hoje mulçulmanos e falássemos árabe.
Eco conta que o santo era zombado pelos companheiros por sua vagarozidade, chamado de boi mudo. Era tão gordo que precisava de duas cadeira para acomodar suas gigantescas nádegas. Certa vez os frades brincalhões gritaram que lá fora havia um asno voador. Tomás corre para a janela enquanto os outros se escangalham de rir. Na volta, o futuro santo faz com que se calem argumentando que achou mais verossímil um asno voar que um monge contar uma mentira.
Para surpresa de todos, algum tempo depois ele se torna professor adorado pelos alunos. E tem um objetivo em mente: resgatar a filosofia de Aristóteles. Até então o Ocidente se contetava com Platão e Agostinho os livros de Aristóteles eram proibidos. O grego é conhecido quase que exclusivamente pelos árabes, muito mais adiantados que europeus tanto na filosofia quanto na ciência. Exemplar é a criptografia: enquanto na Europa qualquer mensagem codificada era considera segura, no Islã os pensadores já conheciam os avançados métodos probabilísticos que considera a freqüência da aparição de cada letra em cada língua. Os árabes da Idade Média eram sábios e refinados, comparados com os europeus. 
Agostinho e Platão poderiam dar contar muito bem do mundo espiritual (ou mundo das idéias), mas pouco diziam sobre o mundo físico. Aristóteles, ao contrário, estudava lógica, psicologia, física, classificação de animais e os movimentos dos astros.
As idéias de Aristóteles traziam em seu bojo a razão, o estudo da natureza e a possibilidade de determinar os eventos.
No mundo árabe, Averróis já recuparava as idéias do filósofo grego. Para ele, Deus contruiu a natureza em sua ordem mecânica e em suas leis matemáticas, reguladas pela determinação férrea dos astros. O mundo tem uma ordem, orquestrada por Deus. Para o filósofo/cientista resta achar ordem em meio ao caos.
Antes de Tomás de Aquino, ao copiar um texto antigo o comentador ou copista, ao encontrar algo que não se encaixava com os ditames da religião católica, simplesmente apagavam as frase “errôneas” ou as retiravam para as margens para colocar em guarda o leitor. Tomás utiliza outro método. Primeiro alinha as opiniões divergentes, esclarece o sentido de cada uma, questiona tudo, até o dado da revelação, enumera as objeções possíveis e tenta a mediação final. Tudo feito às claras, sob a ótica da razão.
Com isso podia ser demonstrado que o verdadeiro sentido da filosofia aristotélica era católico apostólico romano. Tomás cristianizou Aristóteles.
Consegue seu intento com rapidez tremenda para a lenta Idade Média européia. Antes dele se afirmava que “O espírito de Cristo não reina onde reina o espírito de Aristóteles”. Em 1210 todos os seus livros estão proibidos. Em 1255 toda a obra de Aristóteles está liberada e Aristóteles é considerado um sábio que deve orientar a fé cristã.
A luta de Tomás permite que entre no espírito da Europa a razão, a pesquisa empírica e o determinismo. Quando alguns séculos depois Descartes vai formatar o pensamento cartesiano, isso só é possível graças à herança aristotélica, resgatada pelo santo católico.
Ao mesmo tempo em que a Europa entrava na modernindade, Descartes e depois Newton dão a base da metodologia científica, desenvolvem-se as grandes navegações, o Islã fecha-se para novidades, enclausurado em uma fé religiosa rígida, como era o catolicismo da Idade Média.
Como os povos árabes, tão sábios e cultos da Idade Média, foram ultrapassados pelos incultos e fanáticos europeus? A resposta pode estar em São Tomás de Aquino. Ele parece ter sido aquilo que os teóricos do caos chamam de efeito borboleta: pequenos eventos que podem provocar grandes alterações. Não fosse ele, talvez hoje estivéssemos falando árabe e rezando na direção de Meca. 

Fundo do baú - Os monstros

 


Muitos acreditam que Os monstros sejam uma imitação da Família Adams. Mas, embora a Família Adams tenha estreado na tv uma semana antes, a verdade é que os monstros vinham sendo planejados há meses.

O seriado se beneficiava por ter acesso a todo o catálogo e expertise da Universal. Assim, a família é composta pelo Frankstein Herman, sua esposa vampira Lily, o vovô Drácula e o jovem Eddie, um lobisomem. O casal abrigava uma sobrinha de Lily, Marilyn, uma típica garota loira e bonita dos anos 1960. Mas, em curiosa inversão, o casal vivia lamentando a aparência lastimável da moça.

A família morava em uma casa repleta de teias da aranha com um relógio em que o pássaro cuco era na verdade corvo que gritava “Nunca mais” a cada vez que dava as horas, numa curiosa referência ao famoso poema de Edgar Alan Poe.

O humor geralmente surgia entre do contraste entre o que a família considerava normal e o que os outros consideravam normal.

No episódio mais famoso, por exemplo, intitulado Máscara Monstruosa, Marilyn está namorando um rapaz que convida a família para uma festa a fantasia em sua casa.

Lily se espanta que ela consiga um namorado apesar de sua aparência, mas acabam indo, o que provoca várias situações de humor. O vovô, por exemplo, reclama que parou de chover (o tempo vai melhorar, garante Herman) e depois precisa constantemente ser contido para não sugar o sangue dos convidados.

No final, Herman ganha o prêmio de melhor fantasia quando tiram seu elmo de cavaleiro medieval e vislumbram sua face. A situação faz com que a família se retire da festa indignada com a ofensa.

O seriado foi ao ar de 1964 a 1966 num total de 70 episódios.

Xisto e o pássaro cósmico



O sucesso das aventuras de Xisto levou a escritora Lúcia Machado de Almeida a produzir duas outras obras com o personagem, Xisto no espaço e Xisto e o pássaro cósmico.

Esse último foi inicialmente publicado como Xisto e o saca-rolha. Quando resolveram lançar na coleção Vaga Lume, os editores devem ter percebido que aquele não era um bom título e mudaram, dando ênfase ao pássaro cósmico inclusive na capa.

Na trama, um disco voador explode e cai no mar, próximo ao país governado por Xisto. Dos destroços surge um belíssimo pássaro azul: “Era linda e media cerca de dois metros com as asas abertas. Uma levíssima penugem azul cobria-lhe o corpo todo como se feito de lamê brilhante”, escreve Lúcia Machado de Almeida.

Xisto chega a dar uma festa para mostrar a novidade para a população, mas a ave morre, deixando, no entanto, um ovo.

Algum tempo depois uma plantação é arrasada por algo que parece uma mola e esse mecanismo (ou ser) estranho começa a provocar grande estragos no reino. Ao mesmo tempo, várias fatos estranhos começam a ser observados, como copos que se levantam sozinhos, garrafas de leite que se esvaziam sozinhas e outros fatos semelhantes. Os dois fatos, embora muito diversos, parecem estar de alguma forma relacionados.

De todos os livros da série, esse é o menos interessante. A escritora reutiliza algumas estratégias de outros livros, o que torna relativamente fácil adivinhar o que está acontecendo. Outro problema é que, nos livros anteriores, Xisto enfrentava diversos perigos em sequência, numa verdadeira jornada. Aqui, temos só um perigo (o Saca-rolhas), o que torna a trama menos interessante.

Claro que nada disso tira o charme da obra. Lúcia Machado como sempre consegue misturar vários fatos científicos como forma de construir sua narrativa e o faz de forma natural, sem que pareça forçado ou didático.